sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Avaliar para quê?

Por Silvana Castilho (Engenharia de Alimentos / Laranjeiras do Sul)

Professora Marcela Langa
A professora Marcela Langa, Ma. em Estudos Linguísticos, do campus Laranjeiras do Sul, participou do I Congresso Nacional de Avaliação em Educação, I Conave, em Bauru-SP, entre os dias 7 e 9 deste mês. O evento foi uma parceria do Centro de Educação Continuada em Educação Matemática, Científica e Ambiental - CECEMCA/PROEX - com a Faculdade de Ciências da Unesp Campus Bauru e também contou com o apoio da Diretoria de Avaliação da Educação Básica – DAEB/INEP - e da ABAVE - Associação Brasileira de Avaliação Educacional.

Dentre os objetivos do Congresso, a professora destacou a importância das reflexões sobre fundamentação teórica e metodológica utilizadas na construção e aplicação de instrumentos de avaliação em larga escala: “É fundamental que tenhamos um currículo bem definido, com habilidades específicas a serem construídas e desenvolvidos em cada etapa/série/ciclo da educação básica. Avaliações em larga escala acabam por exigir essa organização e unificação nacional do currículo. Contudo, é preciso destacar também que, além do currículo, fatores históricos estão imbricados no processo de ensino e de aprendizagem. A educação é atravessada por muitos outros fatores externos a ela. Não podemos nos iludir, pensando que apenas um currículo bem estruturado proporcionará educação de qualidade para todos, pelo menos não do ponto de vista sociocognitivista”.

Considerando as avaliações em larga escala, a professora analisou alguns resultados da prova Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que constitui a primeira iniciativa brasileira, em âmbito nacional, no sentido de conhecer mais profundamente seu sistema educacional. Tivemos acesso a uma parte da pesquisa da professora em que ela analisa as médias da 4ª série do Ensino Fundamental, considerando os resultados de 1995 a 2001, por região, conforme demonstrado na tabela abaixo:

Tabela 1 – Médias de Desempenho no Saeb, em Língua Portuguesa
4ª série do Ensino Fundamental – Brasil, Regiões – 1995 a 2001
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: http://www.inep.gov.br/basica/saeb/default.asp.
Segundo a professora, os dados apontam a região Sudeste, em todos os anos analisados, com melhor média nacional, em contraste com a região Norte, com as menores médias nas avaliações de 1995 e 1997, seguido da região Nordeste, com as piores médias nos anos de 1999 e 2001. E mesmo as regiões mantendo um desempenho mais ou menos parecido de um ano a outro (ou seja, Sudeste sempre em primeiro, com as melhores médias, e Norte e Nordeste sempre em últimos, com as menores médias), todas as região apresentaram queda nas médias ao longo dos anos, o que levou a professora a concluir (pelo menos) duas coisas: tem ocorrido uma piora na qualidade do ensino, já que as médias estão em decréscimo, e tem havido manutenção das desigualdades regionais em relação às práticas educacionais. Dessa última conclusão, a professora reforçou o fato de que o ensino está diretamente relacionado a fatores regionais, por exemplo, que, por sua vez, colam-se a questões econômicas, sociais e políticas: “Norte e Nordeste são historicamente regiões mais pobres economicamente e, não coincidentemente, as médias dessas regiões são menores que a média de outras regiões”.

Outra consideração da professora Marcela Langa acerca da questão avaliação, agora enquanto instrumento do sistema educacional, é a de que, apesar de a questão parecer superada, ainda há professores que utilizam esse recurso como ação sentenciva, de julgamento de resultados, um ato penoso. Para ela, um ensino que considere o sujeito-aluno como um ser histórico, dialógico e que vise sua autonomia não pratica a avaliação como forma de punição e sim como forma de acompanhamento do aluno em relação ao acesso a uma gama de conhecimentos e ao grau de desenvolvimento de sua autonomia frente ao que apreende.

Por isso, segundo a professora, o ato de avaliar age sempre sem duas direções: em direção ao aluno, porque o resultado de uma avaliação aponta para habilidades e conhecimentos já consolidados ou não, e em direção ao professor, que só poderá orientar suas próximas ações após detectar em que medida a aprendizagem de um conteúdo/habilidade já se efetivou. Assim, a avaliação dever agir retrospectivamente, quando objetiva detectar a aprendizagem (no aluno), e prospectivamente, quando norteia as ações para o ensino (no professor).

A professora pontua ainda que pensar a educação do ponto de vista diálogo e reconhecê-la como instrumento social, político e econômico, que pode contribuir para a inserção social dos sujeitos, implica, consequentemente, entender a avaliação como uma prática educativa democrática e ética.

Mas a professora alerta que não se trata de adotar uma método infalível de avaliar, porque, para ela, isso parece nem existir. A questão seria adotar um método de avaliar (para diagnosticar) condizente com perspectivas teóricas e metodológicas modernas, que já superaram uma série de equívocos produzidos nas práticas escolares.

A professora concluiu a questão, no Congresso e aqui em nossa entrevista, com a proposta não de excluir a avaliação da prática escolar, seja em que nível for, mas de considerá-la contínua e sistemática, visando a efetivação da aprendizagem e reforçando que é preciso reconhecer que no complexo fenômeno da aprendizagem há a operação concomitante de diversos fatores da história do indivíduo que aprende.

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