Para que serve o Domínio Comum?
Pesquisas mostram que mais de 50% dos graduandos não seguem carreira para a qual se prepararam
Por Atelli da Rocha (Letras / Chapecó)
Pesquisa do MEC, divulgada no final de 2007 pelo portal de notícias G1
[1], revelou que mais de 70% dos formados em Cursos de Licenciatura, no Brasil, rejeitam as carreiras do magistério nas escolas brasileiras. Estudo inédito feito pelo Ministério da Educação mostrou ainda que, com exceção de Física e Química, em todas as outras áreas existem licenciados suficientes para suprir a demanda de professores no ensino básico. O estudo apontou, também, que cerca de 1,2 milhão de professores se graduaram nos últimos 25 anos, um crescimento aproximado de 66% desde o ano de 2001, mas eles não querem ir para a sala de aula.
A pesquisa pode parecer alarmante e um tanto desatualizada, já que se passaram quase três anos desde a sua divulgação pelo MEC e os números podem ter mudado. Porém, em mesa-redonda realizada no dia 14 de setembro na UFFS, com o tema “Domínio Comum e formação da cultura universitária”, o reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul, Professor Dilvo Ristoff, fez questão de citar alguns desses dados e ligá-los à realidade dos acadêmicos da UFFS hoje.
Ristoff afirmou que muitos dos formandos da universidade estarão, futuramente, trabalhando em outras áreas. Para exemplificar melhor o assunto, ele contou uma experiência pessoal que teve antes de se tornar professor. Cursou Direito por dois anos, mas abandonou o curso por não se identificar com a área. Ele disse que o conhecimento adquirido durante esse período pode tê-lo auxiliado a se tornar reitor da UFFS hoje.
Uma outra pesquisa, com dados do IBGE, realizada pelos pesquisadores Edson Nunes e Márcia Carvalho, comparou a profissão de cerca de 3,5 milhões de trabalhadores formados em 21 áreas distintas e detectou que 53% deles atuam hoje em carreira diferente daquela para a qual se prepararam. A situação, porém, varia conforme a carreira: em Enfermagem, o índice de quem segue a profissão é de 84%; já em Geografia, não passa de 1%.
A par dessas estatísticas e com o objetivo de oferecer a seus educandos uma formação mais sólida, completa, interdisciplinar e profissional, foi que a UFFS introduziu, em todos os 33 cursos oferecidos pela instituição, 11 disciplinas do Domínio Comum, que serão trabalhadas ao longo da graduação. São elas: Leitura e Produção Textual I e II, Introdução à Informática, História da Fronteira Sul, Matemática Instrumental, Direitos e Cidadania, Fundamentos da Crítica Social, Introdução à Prática Científica, Meio ambiente, economia e sociedade, Estatística Básica e Introdução ao pensamento social.
A inclusão dessas disciplinas nos cursos não busca reverter essas estatísticas divulgadas pelo MEC e também pelos pesquisadores Edson Nunes e Márcia de Carvalho, com base nos dados do Censo 2000, e sim possibilitar aos estudantes de todos os cursos um conhecimento mais vasto e abrangente sobre diferentes assuntos, e assim abrir caminho para que cada estudante faça as suas próprias escolhas e construa a sua própria história.
Pesquisa Comunica: a voz dos alunos da UFFS
Os dados acima suscitaram grandes questionamentos nos acadêmicos integrantes do projeto Comunica: será que essas estatísticas se repetem na UFFS? Para responder a essa questão, durante os dias 30 e 31 de setembro de 2010, o projeto Comunica realizou uma pesquisa no campus na Universidade Federal da Fronteira Sul, em Chapecó, cujo objetivo foi saber se os estudantes da instituição pretendem, ou não, seguir na área para a qual estão se preparando.
Os resultados obtidos revelaram que 100% dos estudantes dos cursos de Administração, Agronomia e Engenharia Ambiental escolheram estes cursos como primeira opção e pretendem seguir carreira na área. Já nos cursos de licenciaturas, o mesmo não ocorreu, conforme atesta o gráfico abaixo:
Pelo gráfico, é possível perceber que, com exceção do curso de Pedagogia, todas as demais licenciaturas apresentaram um índice considerável de estudantes que não pretende seguir a carreira de professor.
Para Angela Stübe, uma das coordenadoras do projeto Comunica, esses dados, ainda que iniciais e sem cunho científico, apontam para representações correntes na sociedade sobre a prática da docência e para o baixo interesse pela área. Indicam, acima de tudo, um dos desafios a ser abarcado pela UFFS: discutir a profissionalização docente. Outro fator a ser destacado em relação à pesquisa é “a iniciativa dos alunos que, a partir de uma explanação do Reitor, buscaram conhecer de modo mais concreto a opinião de seus colegas, demonstrando espírito investigativo e preocupação com demandas reais”.
Outro dado interessante da pesquisa tem com relação à escolha do curso pelo acadêmico (veja o gráfico abaixo). 50% dos estudantes de Sociologia, por exemplo, responderam que não escolheram o curso como primeira opção no processo seletivo 2009 da UFFS. Entretanto, 69% também afirmaram que pretendem, sim, ser professores, ou seja, quase 20% deles, apesar de não terem escolhido Sociologia inicialmente, acabaram se identificando ao curso.
Ainda é cedo para fazer qualquer tipo de comentário sobre os resultados obtidos pela pesquisa. Contudo, vale a pena salientar que grande parte dos estudantes que não desejam ser professores veem nos cursos de licenciaturas oportunidades, como é o caso de Lidiane Putton, que escolheu o curso de Letras não para ser professora, mas para auxiliá-la no curso de jornalismo, graduação que ela pretende fazer futuramente.
Vale a pena ressaltar, também, que a pesquisa do Comunica não teve qualquer caráter científico, e uma nova pesquisa, quando os estudantes de licenciaturas tiverem sua primeira experiência em sala de aula, será de fundamental importância para esclarecer ainda mais esse assunto.
Um balanço do domínio comum
Por Lidiana Putton (Letras / Chapecó) e Lourdes Antunes (Pedagogia / Chapecó)
Definitivamente incorporado à rotina dos professores e alunos da UFFS, o domínio comum tem estado na pauta do dia da comunidade acadêmica. O evento realizado no dia 14 de setembro foi apenas a face mais visível desses comentários. Na prática, porém, a novidade tem frequentado um sem-número de conversas informais e papos de corredor. Por isso, fomos atrás de alunos e professores do campus de Chapecó para saber o que eles pensam e como estão lidando com essa inovação.
“A UFFS não quer formar apenas bons profissionais, mas também cidadãos conscientes”, afirma a professora de espanhol Maria José Laiños, coordenadora do curso de Letras. “É isso que torna o domínio comum tão importante”. O estudante Douglas Marolli, do curso de Filosofia, faz coro. "As disciplinas comuns devem ser não apenas bem vistas, mas também bem aproveitadas. Como qualquer outra, aliás”. A acadêmica de Pedagogia Aline Flores não fica atrás: “Elas nos preparam para seguir em frente nos outros domínios – conexo e específico”.
Mesmo com tanta disposição, o bom aproveitamento não tem sido a regra em todos os casos. O professor Antônio Marcos Correia Neri, que leciona Matemática Instrumental nos cursos de Administração e Engenharia Ambiental, se mostra preocupado com os resultados abaixo da expectativa. "Falta uma base melhor do Ensino Médio. Pesa ainda a falta do hábito de estudo por parte dos alunos e o tamanho da ementa, que é muito extensa", analisa. Seu colega Eduardo Estrada, que leciona a mesma disciplina para o curso de Letras, assina embaixo. “Os alunos estão passando por um choque cultural, que se manifesta de diversas formas. Uma delas é a cobrança nos estudos, que devem necessariamente aliar disciplina e dedicação”.
A percepção dos professores é confirmada pelos números. Segundo as professoras Solange Maria Alves, pró-reitora de graduação, e Zenilde Durli, diretora de assuntos pedagógicos, as disciplinas ligadas às humanidades foram as que tiveram os melhores resultados no primeiro semestre – e o grande nó está mesmo na Matemática Instrumental. “Nosso papel agora é avaliar o porquê dessa dificuldade e como resolvê-la”, afirma Solange (ver entrevista abaixo).
As lacunas da educação básica parecem ser, pelo menos, parte do problema. Para o professor Antonio Alberto Brunetta, coordenador do curso de Pedagogia, pelo menos duas disciplinas têm o objetivo claro de nivelar o conhecimento do ensino médio: Matemática e Leitura e Produção Textual (veja abaixo os depoimentos dos professores). Na opinião da professora de Estatística Básica Joseane Sternadt, este é um nivelamento necessário: “A Estatística requer conhecimento que os alunos deveriam ter aprendido nos anos anteriores. Por isso, ela demanda algum mecanismo de apoio”.
As estudantes de Pedagogia Simone Marouse e Marta Beatriz de Couto não fogem ao desafio. Para elas, o Domínio Comum tem o poder de gerar inclusão. Por isso, afirmam com todas as letras: “Estamos aqui para aprender, e consequentemente crescer junto com a UFFS”.
COMUNICA ENTREVISTA:
Professoras Solange Maria Alves e Zenilde Durli
Por Camila Marcon (Letras / Chapecó) e Duana Gerhardt (Administração/ Chapecó)
Para o Especial Domínio Comum, ao Projeto COMUNICA realizou uma entrevista dupla. Com vocês, a Pró-reitora de Graduação Solange Maria Alves e a Direta de Organização Pedagógica Zenilde Durli, falando sobre as propostas e os desafios do Domínio Comum.
Comunica: Hoje em dia, é comum ouvirmos críticas à superespecialização profissional. A proposta do domínio comum seria uma espécie de resposta a essas críticas?
Professora Solange Maria Alves: De certa forma, sim. Com base nos dados da educação brasileira, percebemos que há uma realidade crítica no país: mesmo com vagas no mercado de trabalho, existe um grande deficit na capacitação dos profissionais. A falta de habilidades nas áreas de comunicação, cálculos e informática decorre de um ensino que não se preocupa com a formação geral do acadêmico, e por consequência prejudica a sua futura carreira.
Professora Zenilde Durli: O domínio comum responde necessariamente a dois objetivos. O primeiro está ligado à necessidade de desenvolver, durante o processo de formação, habilidades básicas de escrita, leitura e interpretação. O segundo consiste em oferecer a todos os estudantes da UFFS conhecimentos das áreas das humanidades, com o objetivo de produzir posicionamentos mais críticos em relação à realidade social. Nesse sentido, o domínio comum é mais do que uma resposta ao problema da superespecialização. É uma resposta ainda a duas outras questões: de um lado, os resultados das avaliações de desempenho em larga escala; de outro, a urgência de pensar um currículo inclusivo do ponto de vista das possibilidades de leitura e inserção social.
Comunica: Que influência se espera que as disciplinas do domínio comum tenham na formação do egresso?
Zenilde: Do conjunto de 11 disciplinas do domínio comum, esperam-se duas contribuições. Primeiro, elas devem contribuir para uma atuação profissional mais qualificada no âmbito das habilidades gerais de leitura, escrita, interpretação e análise de dados. Mas, sobretudo, devem possibilitar uma inserção e atuação social mais consciente e crítica.
Solange: Nós esperamos que os acadêmicos da UFFS saiam com uma boa capacidade de interpretar o mundo, saibam escrever com clareza e consigam fazer uma análise textual e ao mesmo tempo uma análise crítica da realidade. Para isso, é importante ter um conhecimento instrumental nas mais diversas áreas, como a matemática e a informática. É fundamental compreender a importância de cursar disciplinas que servem como ferramentas intelectuais. Sem falar que aprender com elas vai além de instrumentalizar. É formação de cidadania, é comprometimento de mundo.
Comunica: As senhoras têm dados sobre o desempenho dos alunos nas disciplinas do domínio comum no primeiro semestre? De modo geral, como eles se saíram?
Zenilde: No primeiro semestre de 2010, o índice de aprovação dos estudantes nas disciplinas ofertadas ficou em torno de 85 %. Nesse grupo, as notas foram boas, em geral variando entre 6 pontos, que é a média mínima para aprovação, e 8 pontos. De modo geral, o desempenho foi melhor na área das humanidades – como nas disciplinas de Introdução ao Pensamento Social e História da Fronteira Sul.
Solange: Ficou claro que o problema maior é em Matemática. Agora, nosso papel é avaliar o porquê dessa dificuldade e como resolvê-la.
Comunica: Existiria o risco de o domínio comum tomar um espaço excessivo das disciplinas específicas? Isso não poderia comprometer a formação dos estudantes nas suas áreas específicas?
Solange: Não há esse risco. Quando se cria um curso novo, a grade curricular é formada com base nas Diretrizes Nacionais de Educação. Para que o curso seja ofertado, as exigências das Diretrizes Nacionais têm de ser cumpridas, pois são elas que determinam as cargas horárias das disciplinas específicas. Então, posso garantir que nenhum curso da UFFS sairá prejudicado com a inserção das disciplinas de domínio comum em conjunto com as dos domínios conexo e específico.
Zenilde: As diretrizes nacionais de todos os cursos de graduação estabelecem dois grandes grupos de conhecimentos a serem trabalhados nos cursos: conhecimentos gerais e conhecimentos específicos. Assim, trabalhar com disciplinas voltadas para habilidades gerais e conhecimentos atuais não é apenas um dos princípios da organização curricular dos cursos da UFFS – é também uma determinação legal. O domínio comum da UFFS compreende 660 horas, ao passo que a média da carga horária total das matrizes curriculares é de 3.579 horas. Isso significa que os conhecimentos gerais correspondem, em média, a 18,4% da carga horária dos cursos.
Comunica: Não haveria o risco de as disciplinas do domínio comum se tornarem muito superficiais?
Zenilde: O domínio comum precisa ser compreendido, no âmbito dos cursos, como parte da formação necessária também para o bom desempenho nos conhecimentos específicos. Se não houver essa compreensão, então o risco se torna real.
Solange: É um risco que existe em todas as disciplinas, sejam elas de domínio comum, conexo ou específico. O desafio de fornecer conhecimento e instrumentalizar só pode ser superado com a força e a organização dos docentes junto com a contribuição frequente dos acadêmicos, para que todas as disciplinas ofertadas ao longo de cada curso não se tornem superficiais.
Comunica: Há a expectativa de que o professor de uma disciplina do domínio comum adapte suas aulas em função do curso de graduação para o qual elas são ministradas?
Solange: Embora a ementa seja igual para todos, cabe ao professor a sensibilidade de perceber como instigar determinado assunto conforme a área em que o acadêmico se encontra, provocando o interesse com exemplos, diálogos e observações.
Zenilde: Considerando que a ementa não muda, com a finalidade de contextualizar o conteúdo, o professor pode adequar sua metodologia de trabalho, usando exercícios e exemplos direcionados.
COMUNICA ENTREVISTA:
Professor Antonio Alberto Brunetta
Por Lourdes Antunes (Pedagogia / Chapecó)
Coordenador do curso de Pedagogia e professor da disciplina Iniciação à Prática Científica, que integra o Domínio Comum, o professor Antonio Alberto Brunetta respondeu algumas perguntas do Projeto COMUNICA.
Comunica: Você concorda com a proposta do Domínio Comum?
Professor Antonio Alberto Brunetta: Acredito que o Domínio Comum é uma estrutura pensada para criar interação entre os cursos e organizar os currículos de Ensino Superior no Brasil. Mas vem sendo questionada frente às exigências de conhecimento especializado, pois essa mudança teve o objetivo de superar a falta de contato entre os cursos e gerar mais interação. No entanto, as áreas ainda são muito bem definidas nas ciências. Por isso, o fato de haver matérias iguais em cursos diferentes não garante que o dialogo se dará. Talvez isso só comprometa a formação especializada de cada um deles.
Comunica: Você acredita que as disciplinas do Domínio Comum são de fato relevantes para a formação do acadêmico?
Brunetta: As disciplinas Matemática e Leitura e Produção Textual têm um propósito muito claro: nivelar o conhecimento trazido da Educação Básica. Isso se explica pelo caráter popular e inclusivo da nossa instituição. Afinal, temos alunos oriundos de trajetórias escolares muito diversas, o que geraria a necessidade de um nivelamento. Na prática, essas disciplinas trouxeram ainda um ganho adicional: elas permitiram que temáticas de outros componentes curriculares fossem trabalhados. Nesse sentido, foi muito comum que professores dos três domínios dialogassem entre si. Então, era possível, por exemplo, trazer textos de outras disciplinas para a aula de Leitura e Produção Textual. Essa diálogo funcionou muito bem e permitiu aos alunos tanto rever conteúdos quanto aprender conteúdos novos.
Nas disciplinas Introdução ao Pensamento Social e Historia da Fronteira Sul, há uma outra justificativa, que é a adequação da universidade ao cenário regional. Há a preocupação de que a UFFS cumpra um papel importante na sua região de abrangência. Por conta disso, justifica-se tanto uma disciplina de caráter crítico quanto uma que venha a apresentar o espaço no qual a universidade se insere.
Em todos esses casos, porém, vejo um risco. Cada uma dessas disciplinas pode fazer todo sentido para um determinado curso e, ao mesmo tempo, ficar muito solta e aparentemente despropositada para outras carreiras. Com isso, elas acabam se transformando em um peso para certos alunos. A exceção aqui é, talvez, Iniciação à prática científica, já que ela busca situar o acadêmico no universo em que ele acaba de ser inserido.
Comunica: Como foi o desempenho dos estudantes na sua disciplina no primeiro semestre?
Brunetta: Bastante positivo, principalmente em face da heterogeneidade da turma. Como foi a primeira turma do primeiro ano de funcionamento da universidade, me falta um elemento de comparação. Mas, de fato, eu fiquei satisfeito – às vezes, nem tanto pelo desempenho nas provas escritas, mas pela participação dos alunos em sala e pelos debates travados. Ficou claro que eles capturaram a ideia central da disciplina.
Um movimento que eu procurei garantir foi o de tomar a própria vida nascente da UFFS como referência para os debates. Nesse contexto, discutimos questões importantes: as deliberações sobre o estatuto, a realização da Coepe no diálogo entre universidade e comunidade... o próprio Domínio Comum foi um dos temas usados como exemplo para discutir qual é o papel da universidade. Pelas respostas dadas em sala, posso avaliar positivamente a experiência.
Comunica: Você considera que o Domínio Comum tem o tamanho ideal?
Brunetta: Não sei se é possível responder isso agora. Mas, enquanto nós tivermos a convicção de que as questões de currículo na universidade são um campo de luta permanente, então o currículo irá sempre se ajustar aos interesses da comunidade acadêmica e de toda a região.
Comunica: Você trabalha (ou pretende trabalhar) uma mesma disciplina de maneira diferente em cursos diferentes?
Brunetta: Com o tempo, aprende-se a lidar com isso didaticamente, a ser flexível em termos de exemplos. Só que, mais uma vez, é um campo de luta, uma disputa permanente. E é um dilema com nós mesmos, para saber como dosar o conteúdo da disciplina para cada curso, e verificar os casos que exigem adequações mais ou menos radicais. Em síntese, o Domínio é Comum, mas não pode ser Homogêneo.
FALA, PROFESSOR
A convite do COMUNICA, professores de todas os componentes curriculares do Domínio Comum que já foram lecionados falaram sobre suas disciplinas e sobre a importância delas para a formação dos acadêmicos. Confira!
1. Introdução ao Pensamento Social
O componente curricular Introdução ao pensamento social tem como principal objetivo permitir ao aluno o contato com conceitos e teorias do campo das ciências sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política) que contribuam para a formação crítica perante o mundo social. O conjunto dos componentes humanísticos do domínio comum possibilita que o profissional de qualquer área do conhecimento atue profissionalmente e socialmente com uma capacidade reflexiva e argumentativa embasado por um pensamento científico e político acerca da sociedade.
Professor Leonardo Rafael Santos Leitão
Campus Chapecó
2. Leitura e Produção Textual I e II
Estas disciplinas têm como ferramenta de trabalho o texto, tanto na modalidade falada quanto na escrita. Trata-se que, dentre outros objetivos, visa à exploração da linguagem, em eventos de comunicação oral e escrita, e, consequentemente, ao desenvolvimento da proficiência do aluno de graduação não só naqueles gêneros discursivos que circulam no meio acadêmico, mas também naqueles que circulam socialmente, seja no âmbito profissional, seja no pessoal.
Professora Claudia Rost Snichelotto
Campus Chapecó
3. Introdução à Informática
Esta disciplina tem como um dos seus objetivos possibilitar aos acadêmicos a consolidação plena da cidadania, já que hoje é indispensável para qualquer pessoa o uso de computadores e o conhecimento das diversas formas de comunicação e interação que ele permite (por exemplo, através da Internet, uma solicitação de serviços, uma movimentação financeira ou mesmo uma simples pesquisa ao noticiário). Outro aspecto fundamental é o conhecimento de ferramentas básicas de produtividade pessoal, tais como um editor de texto, uma planilha eletrônica e um software de apresentação, que fazem parte da rotina de qualquer profissional, independente da área de formação.
Professor Everton Miguel da Silva Loreto
Campus Chapecó
4. História da Fronteira Sul
Este componente curricular pressupõe que o conhecimento da história do grupo humano da região de abrangência da fronteira sul é imprescindível na formação integral do acadêmico e na compreensão da trajetória da sociedade onde ele está inserido e se percebe como sujeito crítico e agente de transformação. Após a conclusão do primeiro semestre, os relatórios escritos pelos alunos da disciplina apontam que os objetivos propostos foram alcançados com bons resultados. Eles relataram que estes estudos históricos contribuíram na formação profissional, possibilitaram mudanças na visão dos fatos, permitiram conhecimentos novos, compreensão dos contextos históricos passados e uma visão de mundo diferente. Em suma, permitiram ao acadêmico ampliar sua visão sobre importantes aspectos históricos, correlacionando-os com a sua formação acadêmica específica e com o tempo presente.
Professor Delmir Valentini
Campus Chapecó
5. Iniciação à Prática Científica
Questões curriculares no ensino superior expressam um processo dinâmico e um campo de luta permanente. A criação de cursos superiores pautados em concepções de currículo flexíveis subjazem ao paradoxo “especialização-interdisciplinaridade”. Penso que nenhum desses caminhos é adequado. A especialização compromete a formação humana integral; a interdisciplinaridade, por sua vez, inviabiliza a participação ativa nas pesquisas conforme estão definidas atualmente. Foi nesse contexto paradoxal que a UFFS fez sua opção (também dinâmica e em disputa) por estruturar-se a partir da concepção interdisciplinar, organizando-se em Domínio Comum, Domínio Conexo e Domínio Específico. Assim, ao lecionar o componente curricular “Iniciação à Prática Científica”, cujo objetivo remete à compreensão introdutória acerca da vida acadêmica em seus mais diversos aspectos (do metodológico ao político), me esforço por deixar claro aos alunos que essas questões estão inseridas num contexto político e econômico mais amplo, de modo a construir para eles uma visão crítica pautada na interpretação dos limites e das possibilidades da universidade, vista como espaço de produção de conhecimento.
Professor Antonio Alberto Brunetta
Campus Chapecó
6. Matemática Instrumental
Justificar a presença da da disciplina “Matemática Instrumental” no Domínio Comum passa pelo nosso real entendimento acerca da importância dessa área do conhecimento como um dos pilares de nossa constituição como cidadãos e agentes transformadores da sociedade. Quem de nós, ainda que de forma indireta, não se depara, no dia-a-dia, com questões envolvendo proporções, porcentagem, matemática financeira, gráficos e geometria? E quem, notando-se pouco desenvolto nesse tipo de questões, não acaba por sentir-se limitado, privado de um conhecimento tão básico? Pois bem, eis o objetivo da “Matemática Instrumental” em nossos currículos: fornecer aos alunos conhecimentos que, por motivos diversos, foram-lhes privados; conhecimentos que lhes serão imprescindíveis para desempenharem plenamente sua cidadania. Ademais, dadas as características intrínsecas da matemática – quais sejam, o desenvolvimento da capacidade de abstração e de organização e aprimoramento do raciocínio humano –, a disciplina ocupa um papel muito importante para a formação geral do egresso e um papel estratégico para as demais disciplinas da UFFS.
Professor Eduardo Estrada
Campus Chapecó
7. Meio Ambiente, Economia e Sociedade
Esta disciplina tem como objetivo discutir a evolução da sociedade a partir das forças econômicas, políticas e sociais que a constituem. O componente curricular inicia com um estudo da evolução dos modos de produção que o mundo experimentou desde seus primórdios. Na sequência, analisa-se a construção do pensamento econômico, que se desenvolveue para dar respostas aos problemas (crises) que surgem do/no mundo capitalista e também para justificar o seu funcionamento. Nesse momento da disciplina, a economia de mercado e suas contradições passam a ser o principal alvo de discussão, e grandes temas emergem: dentre eles, o papel do Estado na economia, ciclos econômicos e revoluções tecnológicas. Por fim, faz-se uma leitura das implicações dessa evolução do capitalismo sobre a degradação do meio ambiente e discutem-se modelos de desenvolvimento econômico sustentáveis e alternativos ao atual.
A importância da disciplina para o currículo dos acadêmicos da UFFS reside no fato de que a compreensão da “socioeconomia” moderna e dos caminhos que ela segue é facilitada pelo entendimento das questões propostas. Sendo assim, a disciplina visa a contribuir para um olhar crítico e para uma ação transformadora do indivíduo na sociedade.
Professor Darlan Cristiano Kroth
Campus Chapecó
8. Direitos e Cidadania
O componente curricular “direitos e cidadania” pertence ao domínio comum, o que significa que, independentemente da área em que se inscreva o curso escolhido pelo estudante, – seja engenharias ou humanidades – ele é oferecido como conteúdo obrigatório da grade curricular.
Assim, a partir da ementa da disciplina coloca-se um parâmetro e um futuro possível: nesse sentido, o tema “direitos e cidadania” abre para o estudante, por um lado, dois campos conexos de conhecimento e, por outro, fornece algumas balizas teóricas e históricas para que ele possa mensurar e historicizar o seu presente.
Trata-se de percorrer seletivamente os campos da história das ideias políticas e da ciência e filosofia política, o que leva de início aos gregos e romanos. Aprende-se que, através das contradições das cidades-estados da antiguidade – escravistas e imperialistas, que excluíam as mulheres e os estrangeiros – a cidadania se confunde com a própria política e ser cidadão é – como mostra Aristóteles - participar ativamente na escolha e condução dos negócios coletivos, e se necessário ir a guerra para defender a polis. Segue-se, entretanto, o declínio do mundo antigo, e bem mais tarde o renascimento que recoloca a política no cerne de suas preocupações teóricas, mas agora em outras bases. É preciso compreender teoricamente, então, o surgimento do Estado moderno, pois é no seu interior que nasce o indivíduo possuidor de direitos naturais invioláveis – a vida, a liberdade, a propriedade. A era das Revoluções Burguesas assinala o nascimento do mundo moderno e da consolidação e universalização do capitalismo, e a teoria dos direitos naturais – ou contratualismo - é parte integrante desse longo processo, que culmina na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. A esta altura, espera-se, fica evidente para o estudante a conexão entre direitos e movimentos sociais, e o seu significado histórico e político. O que leva, no passo seguinte, a tratar do Brasil, revisitando sua história em termos das lutas políticas e reconstituindo, como faz José Murilo de Carvalho, o longo caminho da cidadania brasileira e dos direitos políticos e sociais (ou a sua ausência).
Cumpre assinalar que tal disposição de conteúdos não é a única possível nem tampouco definitiva, assim como cabe ao professor adaptá-la às idiossincrasias do curso e do estudante que é seu público.
Professor Fábio Carminati
Campus Chapecó
9. Estatística Básica
A estatística tornou-se uma segunda língua necessária em qualquer leitura, da mais a menos elitizada. Sem conhecimento mínimo de estatística o indivíduo não consegue interpretar tabelas, gráficos e não é capaz de entender termos básicos amplamente usados nas diversas mídias. Um indivíduo que não conhece a estatística descritiva pode se considerar apenas parcialmente alfabetizado, pois seu juízo de valor fica limitado.
Do pondo de vista acadêmico, toda e qualquer afirmação que não esteja acompanhada de validação estatística não passa de mero “achismo” e seu valor científico é nulo.
Professora Joseane Sternadt
Campus Chapecó