terça-feira, 23 de novembro de 2010

E agora, Dilma é a nova President(e) ou President(a) do Brasil?

Por Camila Marcon (Letras/Chapecó)

Essa é a dúvida que surge após ter sido eleita, pela primeira vez, uma mulher no cargo mais alto do governo. Enquanto a posse não é assumida, gramáticos, linguistas e a população em geral defendem e expõem opiniões contrárias de qual seria o melhor uso.

A gramática normativa prevê que palavras que terminam em “nte” não sofrem variação, pois a identificação do gênero é o artigo que o precede, como por exemplo, o gerente, a gerente. Essa é uma regra que segue atualmente no português, italiano e espanhol já que o sufixo é originário do latim. Porém, linguisticamente as duas formas estão corretas, como explica Sérgio Nogueira: “A forma PRESIDENTA segue a tendência natural de criarmos a forma feminina com o uso da desinência “a”: menino e menina, árbitro e árbitra, brasileiro e brasileira...”.

Enquanto isso, defensores da forma “agenérica” presidente, apresentam o argumento que a forma feminina tem carga pejorativa, como nos casos de “a chefa” e “a parenta”, que são possíveis na língua, mas na maioria das vezes são usadas em contextos não formais.

Todavia, é importante ressaltar que os três maiores dicionários da língua portuguesa, o Houaiss, o Aurélio e o Aulete, já registram ‘presidenta’ como equivalente de ‘a presidente’, ‘mulher que preside’. Sendo assim, o problema então passa a ser exclusivamente uma questão de preferência ou de padronização como avalia o professor Paulo Flávio Ledur: “A mulher está assumindo posições novas na sociedade. Embora se aceite a forma feminina em professora, doutora, juíza, e em outras não, eu defendo uma forma única. É claro que num primeiro momento, nós estranhamos porque é novo, mas é uma questão de hábito. A língua se faz pelo uso. Na medida em que o uso se consagra, a estranheza desaparece.”

Esse é um fato em comum aos nossos vizinhos argentinos, pois ao assumir a presidência Cristina Kirchner fez questão de ser dirigida como ‘la presidenta’,ou seja, como na língua espanhola a língua portuguesa permite a possibilidade de uso dos dois termos, agora o mais importante é esperar que Dilma defina qual forma ela preferirá ser tratada quando assumir a presidência do país.

Um comentário:

  1. Compartilho com Deleuze e Guattari, quando dizem que a unidade mínima da linguagem é a palavra de ordem, as micros e macros formas de comando, de riscar poderes patriarcais, jurídicos, econômicos e muitos outros que tais.

    A liguagem não é vida, porque ordena a vida, ao inscrever nossas existências em palavras de ordem, por exemplo, de gênero, não casualmente masculino, esse mais espallando comando despótico.

    Penso que esta de ser a interpretação feita: analisar a palavra de ordem masculina no substantivo presitente, sob um duplo comando masculino, o do cargo e o da designação do cargo.

    Quanto ao cargo, subtende-se que deva ser masculino, razão pela qual ainda não dizemos ou normatizamos o feminino, presidenta.

    Quanto à designação do cargo, temos uma consequência do anterior, posto que um cargo normatizado como masculino, o do governo de um país (note-se que governo, como substantivo, é masculino, sendo masculino, obviamente receberá uma designação masculina.

    Só nos resta, como alternativa, inverter o jogo das palavras de ordem. Passar a designar como feminino tanto nos casos de presidenta mulher, como no caso de presidenta homem.

    Lembranças à Marcela Langa e desde já parabenizando-a pelo projeto.

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