Por Gabriel Scheffer (Letras/Chapecó)
Em 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data coincide com a morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695. Para que o marco não passasse em branco, o coordenador do curso de Sociologia Leonardo Leitão, o professor da área de Letras Luciano Nascimento e a acadêmica Méri Terezinha, aluna do curso de Pedagogia e integrante do Movimento Negro, organizaram o I Seminário Interdisciplinar de História, Cultura e Identidade Afro-Brasileiras. Após o término do evento, que se estendeu de 20 a 26 de novembro, pedimos que o professor Luciano Nascimento fizesse um balanço do Seminário e também uma breve análise da realidade do negro no país nos dias de hoje.
Segundo ele, a proposta do evento era criar dentro da Universidade um espaço onde seria possível discutir e refletir sobre as relações raciais. “Nossa principal meta era dar visibilidade a uma questão frequentemente negada, tida como inexistente. Sem sombra de dúvidas conseguimos alcançar esse objetivo, mesmo que modestamente”, comemorou. Ainda sobre o evento, Luciano diz que todas as atividades procuraram mostrar que o preconceito – não só o racial, mas qualquer forma de preconceito – vitimiza a sociedade como um todo, e não só a pessoa ou o grupo contra quem o preconceituoso se volta.
Para o professor Luciano, é um equívoco a crença de que a região Sul abriga uma maioria absoluta de população de origem branca é um equívoco. “Como vimos durante o evento, há aqui negros, caboclos e indígenas também.Acontece que esses grupos ainda são socialmente invisíveis, suas imagens estão ainda relacionadas à marginalidade, à mendicância e ao subemprego”, diz ele. Natural do estado do Rio de Janeiro, o professor Luciano faz uma comparação entre sua cidade e Chapecó. Segundo ele, no Rio de Janeiro o indivíduo negro tem mais oportunidades para se sentir orgulhoso por sua cor. São vários os elementos culturais que colaboram para isso o tempo todo: a música (samba, choro, funk...), a religião (a umbanda, por exemplo, nasceu no Rio de Janeiro), a evidência visual da miscigenação do povo. “Tudo isso colabora para um sentimento de orgulho. Ainda que, não raro, esse orgulho seja falso, e se acabe na primeira entrada social de condomínio das áreas ricas. Aqui em Chapecó, como o negro não se vê, fica mais difícil ser consciente do próprio valor”, analisa ele.
Após o evento, fica a expectativa da conscientização e a luta por um mundo mais justo, com oportunidades e direitos para todos, independente de raça, religião, sexualidade e situação econômica. “A UFFS é uma universidade que nasce com o compromisso de ser ‘pública e popular’. Nossa instituição não pode se furtar a seu compromisso com a formação de professores conscientes de seu papel de agentes transformadores da realidade. Uma universidade medularente ligada aos movimentos sociais não tem o direito de ser insensível à questão racial no Brasil”, conclui ele.
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