Handressa Louanne Rossi (História/Chapecó)
A partir de fotos, cantigas, ‘causos’, parte de entrevistas e rezas antigas - como a carta celeste ou o terço cantado, que está quase extinto -, a exposição pretende nos aproximar do modo de vida dos caboclos de Santa Catarina. A exposição ficará aberta no CEOM, localizado no segundo piso da estação rodoviária de Chapecó, até dia 29 de agosto.
A abertura da exposição contou com a palestra “Cultura Imaterial Cabocla do Oeste Catarinense”, ministrada por Arlene Renk, doutora em antropologia social, da Universidade do Oeste Catarinense. Arlene destaca que a história cabocla é cheia de lutas e de perdas, não só da terra, mas da sua identidade também. Ao contrário da história dos colonizadores, que é romantizada ao redor de muitas conquistas.
Uma história que muitos não querem contar e que, durante muito tempo, não foi lembrada, ou foi apagada, a fim de esquecer que estas pessoas estiveram aqui. Estiveram e estão! Ainda lutam pelos seus espaços e, muitas vezes, ainda vivem nas sombras de velhos preconceitos.
É necessário ressaltar que o caboclo vive de maneira muito diferente da dos imigrantes europeus, em um sistema de subsistência, no qual a religiosidade é um aspecto muito acentuado, em especial a crença nos monges. Acreditam que a terra, e tudo o que está nela, só pertence a Deus, não vendo motivos para a ganância desenfreada dos colonos.
Historicamente, os caboclos eram alheios a compra e venda da terra, sendo descartados, de modo brutal, pelo sistema capitalista que estava nascendo aqui.
Jair Antunes, membro da associação “Puxirão dos Caboclos”, narra aspectos da história de sua família e explica o que acontecia na nossa região no início do sec. XX:
...meu avô foi morto, na beira do rio Irani, se você perguntar ao seu avô, por exemplo, ele vai dizer que eram um bando de gente sem parada, que assaltavam os lugares por onde passavam. Mas eram pessoas de bem, das quais tudo foi tirado, e que não podiam parar porque eram perseguidos, e nem mais tinham direito a um pedaço de terra [...] meu pai tinha 16 anos quando ele morreu, foi uma emboscada, e o meu pai passou a viver se escondendo pelos matos, até os últimos anos da vida, se via muito movimento perto da ‘taperinha’ onde morava, pegava e ia embora [...] foi um longo processo até que meu pai contasse totalmente essa história, ele não queria que pensássemos que o seu pai era ladrão. [...] essa historia é importante não só para a minha família, mas para um resgate histórico de toda uma época.
Os trabalhos do Puxirão vêm se articulando desde a década de 1970, mas a associação só se efetivou em 2000. A partir daí, vem fazendo um resgate histórico e cultural caboclo, para fortalecer cada vez mais o modo de viver sem ganância e o orgulho de ser caboclo.
Por hora, a associação está se organizando para comemorar a “Festa do Divino”, na comunidade de Linha Almeida, no dia 12 de junho. A entrada será franca, basta levar um prato de comida para compartilhar, porque a festa é de comemoração e não para pagar!
Mais informações sobre “Puxirão dos Caboclos” podemos encontrar no Inventário da Cultura Imaterial Cabocla, no CEOM, e no site http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/1/1a/GT3-_09-_Manifesto_Caboclo-varios.pdf com o Manifesto Caboclo.
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